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Nesta segunda-feira (20), o site Universo A, publicou um artigo do infectologista Ricardo Vasconcelos (foto) a respeito das novidades divulgadas durante a Conferência Anual sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections – CROI). Esta edição do CROI acontece na última semana (de 13 a 16) em Seattle (EUA). A conferência reúne pesquisadores de todo o mundo e é o principal espaço internacional para a construção de uma ponte entre a pesquisa básica e clínica e a prática clínica no campo do HIV e vírus relacionados.

No artigo, o médico se diz otimista com a evolução das opções terapêuticas, incluindo a subcultânea que poderá ser administrada uma vez por mês; com as drogas mais potentes que apresentam menos efeitos adversos; e com o inicio do que poderá a ser uma profilaxia pós-exposição para a sífilis.

Direto de Seattle: Uma semana de otimismo na luta contra o HIV

Qualquer pessoa que tivesse participado do congresso mundial de HIV teria ficado eufórico e otimista como eu fiquei

O CROI (Conference o Retroviruses and Opportunistic Infections) é o encontro de médicos, cientistas, pesquisadores e da comunidade que vive com HIV do mundo todo, que ocorre anualmente nos Estados Unidos, com o objetivo de unir forças para vencer a epidemia de HIV, tentando melhorar a vida de quem já vive com o vírus e procurando maneiras de zerar o número das novas infecções.

Durante toda essa última semana o mundo científico da infectologia parou para ensinar e aprender o que há de novo entrando em campo no mundo do HIV. E, acreditem, é muita coisa nova e boa que vem por aí.

Aí vão algumas das coisas que foram discutidas por aqui:

Para quem já vive com HIV as opções terapêuticas não param de se multiplicar, tanto nas novas drogas antirretrovirais, que são cada vez mais eficazes contra o vírus e tem excelente perfil de efeitos colaterais, como é o caso dos novos bictegravir ou doravirina; quanto em novas formas de administração dos medicamentos, como por exemplo o novíssimo e potente antirretroviral GS-CA1, que poderá ser administrado por via subcutânea 1 vez a cada mês ou talvez até em intervalos maiores.

Somado a isso, entende-se agora que, com drogas mais potentes contra o vírus, poderemos montar esquemas de tratamento com cada vez menos medicamentos associados, melhorando e muito a vida de quem os utiliza, sem perder a segurança no controle da evolução da doença.

Do ponto de vista técnico, está cada vez mais fácil viver com HIV e com saúde.

Para quem não tem HIV, a certeza é cada vez maior de que a melhor maneira para se manter livre do vírus é associar estratégias de prevenção em vez de apostar que uma sozinha dará conta da tarefa. A essa associação damos o nome de Prevenção Combinada.

Uma pessoa que na sua vida usa a camisinha em relações de risco o máximo que conseguir, e conta com a segurança garantida pelas profilaxias pós e pré exposição sexual (PEP e PrEP) nos momentos em que a camisinha está sendo deixada de lado, vai passar por esse mundo certamente sem HIV. E associado a isso, a certeza de que pessoas que já vivem com o vírus, quando estão em tratamento antirretroviral adequado com carga viral indetectável, deixam de ser transmissoras da doença (tratamento como prevenção), potencializa ainda mais as possibilidades de redução dos novos casos de infecção por HIV.

Um exemplo de implantação maciça da estratégia de prevenção combinada contra o HIV é o programa EtE: Ending the Epidemic (acabando com a epidemia) da cidade de Nova Iorque, no Estados Unidos, apresentado no CROI 2017 pelo seu diretor Dr. Demetre Dascalakis. O EtE pretende financiar e facilitar o acesso à testagem para HIV, preservativos, PEP e PrEP para a população gay e outros grupos vulneráveis, e garantir tratamento para os já positivos, com o objetivo de controlar a epidemia de HIV na cidade até o ano de 2020.

Outro assunto quente foi o uso de anticorpos neutralizantes para o HIV, que encontram-se em fases iniciais de pesquisa porém são muito promissores tanto para tratamento com indetecção de carga viral sem uso de antirretrovirais, quanto para prevenção com PrEP, e chegando até a possibilidade de um caminho para a cura da doença.

Do ponto de vista técnico, está cada vez mais fácil se proteger do HIV.

No entanto, a apresentação que mais chamou a atenção foi a do francês Dr. Jean-Michel Molina, que apresentou um ensaio clínico do grupo Ipegay que mostrou que o uso de um antibiótico até 3 dias depois de uma relação sexual de risco reduziu de maneira significativa a incidência de infecções por sífilis e clamídia entre gays da França e Canadá. Mais informações ainda são necessárias para se afirmar que a medida será eficaz de maneira duradoura e o impacto que isso traria para a resistência bacteriana a antibióticos, mas a boa notícia é que começa a se desenhar no horizonte a possibilidade de termos uma PEP para sífilis em breve.

E de quebra ainda encontrei num restaurante jantando o notável paciente de Berlin, Timothy Brown, o único homem curado do HIV até hoje. Sorridente e descontraído, vivendo sua vida com saúde e esperança.

Nessa semana foi emocionante ver que os pesquisadores do mundo todo estão empenhados para encontrar soluções para problemas de saúde que atingem de maneira desproporcional a população gay, como o HIV e a sífilis. A parte técnica dessa história não para de melhorar, mas cabe a cada um de nós fazer a sua parte e estar sempre em dia com a prevenção combinada, testagem e tratamento do HIV e demais ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) que podem vir a aparecer.

FONTE: http://agenciaaids.com.br/home/noticias/noticia_detalhe/25989